09 março, 2007

E tu? Queres dormir comigo?






Já há algum tempo que me perguntava porque bocejávamos, mas mais curioso que isso era o facto do bocejar ser “epidémico”. Essa que me deixa realmente fascinado.

Quanto ao bocejar:
Ao princípio sentimos um minúsculo vórtice de baixa pressão algures no meio da cabeça. Logo se espalha por todo o corpo num movimento em espiral, como um remoinho:
Dilata a faringe, laringe, narinas e canais brônquiais; erguem-se as sobrancelhas e os ombros; o diafragma baixa, para permitir que os seus pulmões expandam; obrigam o coração a correr e aumenta o fluxo de sangue ao cérebro. Depois, numa reviravolta dramática, regressa à sua cabeça, onde consegue que a sua língua se recolha e força as mandíbulas a moverem-se para os lados e para baixo. Aqui, activa o segundo e terceiro ramo do nervo Trigémeo (um dos nervos da face), tendo este ultimo como função estimular o cérebro de modo a evitar o sono. (A titulo de curiosidade, mascar uma pastilha elástica produz o mesmo efeito.) Tudo isto acontece em menos de seis segundos

(Um problema está aparentemente resolvido. Digo aparentemente porque ainda muito se poderia questionar sobre o que é isso do evitar o sono, e se é o sono que activa o bocejar, ou se é o “consciente”, e se é o “consciente” não o faz muito “inconscientemente”? E, afinal o que é o consciente? Etc…por aí fora…)

Mas o que me fascina mais ainda é o efeito “epidémico” do bocejar…
Mas que raio se passa no momento do bocejo que contagia toda a gente?
Primeiramente, poderia pensar-se que ao bocejarmos libertamos partículas pelo ar, que uma vez atingindo o nariz (ou qualquer outra parte do corpo) dos restantes, os “contaminariam” e sem qualquer possibilidade de “defesa” os induziriam a um bocejo, que libertaria mais partículas, e resultaria isto então num efeito “vomito-no-carrocel”.

Pois é, mas a verdade é que este efeito “epidémico” do bocejo é transmissível apenas pela visão (no máximo, pela audição também), porque feitos estudos, concluiu-se que metade das pessoas que viam na televisão a bocejar, não resistiam a abrir a boca “com sono”.
Observou-se também que todas as crianças com menos de 5 anos eram completamente imunes a este efeito, o que levou a concluir que “Bocejar por contágio parece basear-se na capacidade de sentir empatia e auto-consciencia, o que requer um intelecto sofisticado”.

Era assim explicado que sempre que um humano boceja, um outro, primeiro porque tem consciência de si próprio, e segundo porque tem consciência do “um” como comum de si próprio (mesma espécie, mesma raça, mesma cultura, etc.…), reage de forma “natural” por empatia. (podemos neste ponto compara o bocejo com o riso. Este como sabemos é tanto ou mais “contagiante” que o bocejo)

O problema é que “mais a frente”, estudos em chimpanzés demonstram que também eles sofrem de contágio aquando um bocejo.
Aqui, temos de optar por umas das duas posições:
Ou os chimpanzés são auto-conscientes.
Ou esta explicação fica muito longe de satisfatória.

Bem, se formos pela primeira, bem… não me parece. Olha, que os chimpanzés sejam inteligentes, e até racionais. Acredito, e até defendo. O problema aqui é dizer que eles são auto-conscientes. Isso é “outra loiça”.
Um ser auto-consciente acaba por se reconhecer num espelho. Ou melhor ainda: não só tem olhos, mas também sabe que eles servem para ver… e dificilmente atribuiria esta capacidade a chimpanzés.
Por uma outra abordagem, se tivéssemos de considerar um chimpanzé racional e auto-consciente, teríamos de lhe fornecer um rendimento mínimo, e um passe sénior dos STCP quando ele fizesse 65 anos.

A segunda alternativa é então A alternativa.
Leva-nos mais uma vez para o caminho da ignorância, mas apenas para nos fazer regressar com mais certezas do que aquelas com que partimos.

Iniciemos a viagem então…

3 comentários:

RHS disse...

lol o melhor é não bocejar e cair logo para o lado a ressonar, sempre nos poupa muitos pensamentos e reflexoes e principalmente não temos que pagar beneficios sociais a chimpanzes...

Unknown disse...

Bem, no pagamento de beneficios tenho de concordar contigo, mas quanto ao pensamento e reflexão...bem, tas a tirar-me o trabalho...ve la,ve la. olha que no teu aniversário vou-t oferecer o livro "Mais Platão, Menos Prozac" de Lou Marinoff (http://www.planetanews.com/produto/L/16360)...hehehehhehehehehheheehehhehehehehehheheh

Anónimo disse...

bem...já se sabe que maior parte das coisas que vocês dizem ou nao percebo, ou nao acho a mínima piada, o que acaba por ir dar ao mesmo! Mas confesso que depois de ler este (por insistencia do pc) até acabo por dar o braço a torcer, porque acho que tá simplesmente fabuloso! Outra coisa curiosa é que enquanto ia lendo nao parava de bocejar...hum...porque será?!