12 novembro, 2014

Um perfeito fantasma

Eu entrei em contacto com este conceito num jantar em Casa do Hênrrric.
Eu acho que o nome se escreve “Henrique”, mas o homem é francês e merece que o seu nome seja pronunciado de acordo com os delicados fonemas da língua do país onde Hênrrric nasceu e vive.

A noite prometia, o Hênrrric apresentava-nos a nova namorada.
O raio do homem é feio, monstruoso e tem duas pernas de pau. Mas a terceira deve ser de igual material pois a sua namorada não era nada de se deitar fora mesmo tendo em conta a idade (falamos de 50+).

Mas história não é sobre o Hênrrric, nem sobre a sua namorada. Nem sobre qualquer uma das personagens que está presente nesta sala, que também é escritório e que também é quarto, tão obvio é que estamos em Paris.

Para continuar a história, ou mais para acaba-la, falta chegar a arquiteta – ou aspirante a, uma vez que ainda não acabou o estágio – coisa que acontecerá daqui a quais queres minutos. Ela chegar, e nao ela acabar o estágio!

Para já estamos todos a beber Ponche e a comer bocadinhos de salpicão e de queijo.
E aproveito a oportunidade e o espaço – e o tempo também, uma vez que a arquiteta está presa no trânsito e isto pode demorara - e envio o mais autêntico elogio a minha mãe e aos seus salpicões.

O presunto ainda vai, as pessoas gostam. Mas o salpicão poe esta gente tola. Principalmente as mulheres, certamente efeito do seu palato mais delicado. É caso para dizer, baseado na minha experiencia, que as francesas adoram salpicão português.
   
Finda a oportunidade e o espaço – tempo temos bastante porque o trânsito está horrível, não tivéssemos nós em Paris – continuemos a descrever os aperitivos e petiscos. Mas por petiscos não se entenda nada como bolinhos de bacalhau, nem rissóis de camarão. Isso aqui não existe porque não se conhece e nem é tao refinado como caracóis cheios de gosma ou fígado cheio de gordura.

Gil acabou de entrar. O seu nome escreve-se como: Gilles, mas devido ao seu tamanho vou chama-lo Gil, e entrou também Norri, que não faco a mínima ideia como se escreve mas isso não interessa pois estou chocado com a sua camisa cheia de flores.

Brindamos o segundo copo de Ponche mas este é mais um Punch, devido ao elevadamente abusador rácio Rhum-tudo o resto.

Vamos sentarmo-nos para comer! Esta tudo pronto e vai o terceiro copo de Ponche: perco a noção do tempo. A arquiteta acaba de a entrar.

É uma rapariga, plus tôt jeune, uns 5 anos mais nova que eu diria, sobriamente vestida e de face simpática.
Faz o ‘bise’ a todo mundo, introduções e ‘salut’s’ e senta-se a minha frente do outro lado da mesa e começa:
Peço imensa desculpa mas perdi algum tempo com um perfeito fantasma!

Olho a volta e está tudo com a mesma cara que eu, todos estão a espera de mais informações e ninguém mexe um dedo, exceto as flores na camisa do Norri que não param de dançar.
Ela continua:

            - Um perfeito fantasma!? Nunca vos contei dos meus perfeitos fantasmas?

Vários "nãos", uns "não seis" ou "não me lembros" e ela toma a palavra para nos elucidar:

            -Nunca vos aconteceu? A mim acontece-me souvant, que vou cagar e aquilo sai, não faz barulho, entra com ângulo tal que passa para o outro lado do buraco da sanita e quando vão a limpar o  não há nada no papel higiénico? Eu por vezes ponho-me a pensar se cagei mesmo ou não!


Eu olho para a minha mão e vejo o meu copo de Ponche vazio. Pergunto-me quantas merdas destas já terei bebido! 

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