Eu entrei em contacto com este conceito num
jantar em Casa do Hênrrric.
Eu acho que o nome se escreve “Henrique”, mas o homem é francês e merece que o seu nome seja pronunciado de acordo com os delicados fonemas da língua do país onde Hênrrric nasceu e vive.
Eu acho que o nome se escreve “Henrique”, mas o homem é francês e merece que o seu nome seja pronunciado de acordo com os delicados fonemas da língua do país onde Hênrrric nasceu e vive.
A noite prometia, o Hênrrric apresentava-nos
a nova namorada.
O raio do homem é feio, monstruoso e tem duas
pernas de pau. Mas a terceira deve ser de igual material pois a sua namorada não
era nada de se deitar fora mesmo tendo em conta a idade (falamos de 50+).
Mas história não é sobre o Hênrrric, nem sobre
a sua namorada. Nem sobre qualquer uma das personagens que está presente nesta
sala, que também é escritório e que também é quarto, tão obvio é que estamos
em Paris.
Para continuar a história, ou mais para acaba-la,
falta chegar a arquiteta – ou aspirante a, uma vez que ainda não acabou o estágio
– coisa que acontecerá daqui a quais queres minutos. Ela chegar, e nao ela acabar o estágio!
Para já estamos todos a beber Ponche e a comer
bocadinhos de salpicão e de queijo.
E aproveito a oportunidade e o espaço – e o tempo também, uma vez que a arquiteta está presa no trânsito e isto pode demorara - e envio o mais autêntico elogio a minha mãe e aos seus salpicões.
E aproveito a oportunidade e o espaço – e o tempo também, uma vez que a arquiteta está presa no trânsito e isto pode demorara - e envio o mais autêntico elogio a minha mãe e aos seus salpicões.
O presunto ainda vai, as pessoas gostam. Mas
o salpicão poe esta gente tola. Principalmente as mulheres, certamente
efeito do seu palato mais delicado. É caso para dizer, baseado na minha experiencia,
que as francesas adoram salpicão português.
Finda a oportunidade e o espaço – tempo temos
bastante porque o trânsito está horrível, não tivéssemos nós em Paris – continuemos
a descrever os aperitivos e petiscos. Mas por petiscos não se entenda nada como
bolinhos de bacalhau, nem rissóis de camarão. Isso aqui não existe porque não se conhece e nem é tao
refinado como caracóis cheios de gosma ou fígado cheio de gordura.
Gil acabou de entrar. O seu nome escreve-se como:
Gilles, mas devido ao seu tamanho vou chama-lo Gil, e entrou também Norri, que não faco a mínima
ideia como se escreve mas isso não interessa pois estou chocado com a sua
camisa cheia de flores.
Brindamos o segundo copo de Ponche mas este é
mais um Punch, devido ao elevadamente abusador rácio Rhum-tudo o resto.
Vamos sentarmo-nos para comer! Esta tudo
pronto e vai o terceiro copo de Ponche: perco a noção do tempo. A arquiteta
acaba de a entrar.
É uma rapariga, plus tôt jeune, uns 5 anos mais nova que eu diria, sobriamente
vestida e de face simpática.
Faz o ‘bise’ a todo mundo, introduções e ‘salut’s’
e senta-se a minha frente do outro lado da mesa e começa:
Peço imensa desculpa mas perdi algum tempo
com um perfeito fantasma!
Olho a volta e está tudo com a mesma cara que
eu, todos estão a espera de mais informações e ninguém mexe um dedo, exceto as
flores na camisa do Norri que não param de dançar.
Ela continua:
-
Um perfeito fantasma!? Nunca vos contei dos meus perfeitos fantasmas?
Vários "nãos", uns "não seis" ou "não me lembros" e
ela toma a palavra para nos elucidar:
-Nunca
vos aconteceu? A mim acontece-me souvant,
que vou cagar e aquilo sai, não faz barulho, entra com ângulo tal que passa
para o outro lado do buraco da sanita e quando vão a limpar o cú não há nada no
papel higiénico? Eu por vezes ponho-me a pensar se cagei mesmo ou não!
Eu olho para a minha mão e vejo o meu copo de Ponche vazio. Pergunto-me quantas merdas destas já terei bebido!